Marrocos 2010 - Dia 4

Dia 4 (322Km)

Os mecânicos do rally polaco trabalharam a noite toda nos dois Pajeros e na KTM. De manhã o trabalho estava terminado.



Ainda pensámos na pista para Zagora e no Erg Chegaga, mas como são cerca de 300Km e pelo que dizem não é muito fácil, optámos pela mesma pista do dia anterior de regresso a Erfoud.







Em Erfoud aproveitámos para abastecer e levantar dinheiro. Seguimos na R702 rumo aos Gorges do Todra e Dadés. Pelo caminho encontrámos este Sr. a caminhar sozinho pela estrada.



As capacidades de carga dos camiões em Marrocos são bem diferentes das de cá.



A estrada até Tinejdad é um pouco monótona, mas como não havia muito trânsito seguimos rapidamente até ao Todra.



O local impressiona, mas o excesso de turistas tira a graça toda. Parámos apenas para uma foto e seguimos para norte. O objectivo era seguir até Agoudal e descer para o Gorge du Dadés por Msemrir. O tempo não estava famoso, apanhámos chuva e em Tamtattouchte decidimos parar para almoçar. Como não havia muita escolha parámos num tasco de aspecto duvidoso. Um dos marroquinos que estava sentado na esplanada dirigiu-se a nós e eu perguntei se havia algo para comer. Das sugestões dele aceitámos as espetadas porque iam ao fogo e uma omolete berbere. Tudo negociado por 150Dh para os três. Levantou-se o cozinheiro, acendeu o fogareiro e começaram a tratar do repasto. Inesperadamente, passados 15min. tínhamos à nossa frente a melhor refeição da viagem.



O serviço e a atenção foram excepcionais e a comida estava deliciosa. Numa próxima viagem quero voltar a este simples tasco.
Como o tempo estava cada vez pior e o combustível não abundava, aceitámos a sugestão de fazer a pista directa para Msemrir. Disseram-nos que os primeiros 10Km estavam porreiros e depois piorava, mas com as nossas motas não teríamos problemas.



Haviam zonas um bocado técnicas, especialmente porque o chão de pedra escorregava bastante, mas mesmo com chuva divertimo-nos bastante.







Demorámos cerca de 1h para fazer os 40Km, um pouco cansados chegámos ao alcatrão.





Descemos para o Dadés sempre a chover e como já era quase de noite, parámos num Albergue junto à estrada onde pernoitámos. No mesmo local estavam 3 GS de espanhóis cheias de malas e extras, todas limpinhas. Eles não quiseram grandes conversas com os portugueses todos molhados e cheios de lama!

Continua…

Marrocos 2010 - Dia 3

Dia 3 (100Km)

Tomámos o pequeno-almoço e fomos visitar a vila. Perdemo-nos pelos jardins, onde a rega é feita com regos na terra, um sistema que já se vai perdendo em Portugal. O palmeiral perde-se no horizonte, é impressionante o contraste entre os montes terracota e o vale verde vivo.



Regressámos ao Albergue e preparámos as motas. O Moha falou-nos na pista de Erfoud para o Erg Chebbi e o Sahid diz que quer vir conosco para montar um restaurante marroquino em Portugal. Falei-lhe do estado do país e disse-lhe para esperar mais uns anitos.







Despedimo-nos desta gente simpática rumo ao famoso Erg Chebbi. Em Erfoud virámos à esquerda no segundo banco e seguimos para este, na direcção da Argélia. Aproveitámos e subimos o monte das antenas para apreciar a vista.



Continuámos até o alcatrão acabar e seguimos pela pista. Que sitio espectacular. Temos liberdade para seguir por onde nos apetecer, apenas tínhamos de ir na direcção do Erg que se via no horizonte. São cerca de 40Km de diversão onde quase não se vê ninguém, apenas de vez em quando aparecia uma tenda berbere.













Quando estávamos mais perto do Erg começam a surgir os albergues e o movimento de motas e 4x4.



Falaram-nos no Kasbah Tombouctou, que para além dos quartos organiza também uma noite no deserto. Olhando para o parque automóvel vimos que talvez fosse demasiado caro. Havia disponibilidade e mostraram-me o quarto. Que espectáculo, tinha 4 camas de casal e a casa de banho era do tamanho da minha sala. Tinha piscina, SPA, Hamman e outras coisas que não me lembro o nome. Quando me disseram o preço (683Dh por pessoa/meia pensão) fiz cara feia e disse que não estava disposto a gastar tanto dinheiro. Ainda baixaram para 500dh (50€ aprox) e penso que talvez chegasse aos 400, mas nunca à fasquia máxima de 250 que tínhamos acordado gastar. Da próxima vez faço um mealheiro só para esta noite.



Seguimos para Merzouga e um rapaz coloca-se ao meu lado numa espécie de mobilette. Falava comigo mas eu tive de desligar a mota para perceber alguma coisa. Oferecia tudo, sitio para comer, para dormir, excursões nas dunas, … Para dormir tinha um albergue a 80dh, mas nós queríamos com piscina e fomos parar ao local que o pessoal do trailaventura já se habituou.



Estava cheio porque havia um Rally polaco qualquer, mas depois de procurar lá encontraram um quarto para os 3. Foi negociado a 180Dh/meia pensão. Demos um mergulho na piscina, almoçámos e fomos brincar ao Dakar para as dunas.
A lição estava estudada, peso para trás, manter o momento, não desacelerar e sempre que começar a atascar acelerar ligeiramente. Correu bem até eu me lembrar que devia ter baixado a pressão dos pneus. Parei, vazei os pneus e já não consegui arrancar. A roda de trás estava sempre atascada. Ao lado da mota consegui desatascar, mas sempre que me montava a roda traseira afundava.



Ao fim de 10 minutos e de gastar a energia do almoço, fui buscar ajuda (ainda estou a dever uma cerveja ao Armando e ao Nelson). Finalmente continuei e ainda me diverti um pouco para cima e para baixo, tombei de lado numa duna que acabava na vertical, deixei-me de aventuras e voltei para terreno mais amigável.
O Armando estava a descobrir os segredos na mota nova e não parava de levantar pó.



Ainda parámos um pouco para ver o Lancer do Van Loon em testes. Digamos que as habilidades a conduzir nas dunas eram diferentes do resto do pessoal que por lá andava.



Já tínhamos a barriga cheia de areia e decidimos voltar para mais um mergulho na piscina e jantar. Depois do jantar, fomos para o terraço do Albergue beber uma garrafa de tinto que ia na bagagem.

Continua…

Marrocos 2010 - Dia 2

Dia 2 (465Km)

Deixámos o Albergue às 9h. O patrão fala um pouco de francês e conversa conosco enquanto carregamos as motas. O Albergue não é mau, mas o patrão é manhoso. Queria cobrar o pequeno almoço que tinha sido oferecido na negociação de ontem à noite.



Passados 5 min. estávamos em Ifrane. Explicaram-me que a arquitectura servia para resistir à queda de neve no Inverno, mas continuo a pensar que quiseram fazer um destino de neve igual aos da Europa para atrair turismo.





Não perdemos muito tempo, voltámos para o verdadeiro Marrocos rumo a Azrou e à tão famosa Floresta dos Cedros. Na estrada de Ifrane para Azrou encontrámos as dezenas de Albergues que nos tinham falado. Na próxima viagem aponto directo para esta zona. De acordo com o mapa, a Floresta dos Cedros fica a sul de Azrou, por isso seguimos pela R13 à procura do desvio.



No primeiro corte virámos para Ait-Leuh numa estrada estreita, com piso de alcatrão antigo e com muitas curvas. No início as arvores quase não deixavam ver a paisagem, mas de repente a vegetação desapareceu e parecia que tínhamos chegado à Lua.







O percurso era interessante e a paisagem impressionava, mas ainda não tínhamos encontrado as famosas pistas. Dou uma olhadela no GPS e vejo uns tracks mais à frente. Finalmente vamos largar o alcatrão!



O caminho coincidiu com o track nos primeiros 100mts, depois estávamos por nossa conta. Umas ribeiras e umas pedras mais à frente chegámos ao país dos Teletubbies. Um fantástico tapete de relva com socalcos. Surpreendentemente o piso agarrava bastante, o que desiludiu o Armando que queria brincadeira.





O lago estava perto o GPS mostrava um track nos montes à nossa frente. Esta zona deve estar cheia de água no Inverno, mas como ainda choveu pouco decidimos arriscar e atravessámos o vale.



Voltámos ao track e um pouco depois ao alcatrão. Ao seguir para sul voltei a ver outra marcação no GPS. Seguimos sem saber para onde, o que interessava era descobrir a zona e evitar a estrada. Foi um percurso espectacular que durou grande parte da manhã.







Como ainda tínhamos o Atlas para atravessar, fomos à procura da N13. É difícil descrever a calma e a liberdade que se sentimos. Na próxima viagem quero explorar esta zona com mais detalhe.



Já na N13 parámos para abastecer em Zeida. Num restaurante encontrava-se uma excursão do Nick Sanders. Um casal levanta-se da mesa e vem admirar a Africa Twin do Nelson. Aproveitámos o ambiente motard e almoçámos também. Os comentários da mesa dos ingleses viraram-se para a AT “…best bike ever made!”. Em tom de brincadeira (ou não) o casal da GS propôs a troca mas o Nelson não aceitou. Dizem que para o ano vão comprar uma mota destas.



O almoço foi um bocado caro (8€), mas não estava mau. Dizem que a pista do Cirque du Jafar está em mau estado, não quisemos arriscar e continuámos pela N13 rumo a sul.



A travessia do Atlas deslumbrava a cada minuto. Parámos várias vezes para contemplar a natureza. Quando pensávamos que tínhamos visto uma paisagem espectacular aparecia outra de cortar a respiração.





Estava a anoitecer e tínhamos de procurar alojamento. Já vimos tanto e ainda ia ser a nossa segunda noite em Marrocos. Zouala era perto e havia uma casa de hóspedes que vinha referenciada no Guia Routard a 200-250dh a meia pensão. Parámos numa área de descanso para procurar a entrada para a vila. O dono da tenda do chá veio falar conosco e perguntou se procurávamos alojamento. Disse que sim e que tinha visto no routard uma Maison D’Hote que parecia porreira. Ele trabalhava no local que procurávamos! Ficou acordado o preço em 200dh (tentei baixar para 150dh mas como algures na conversa tinha referido o guia já não deu).







Foi o melhor sítio onde ficámos durante toda a viagem. Simples, com um ambiente calmo, pouca luz e decorado com gosto e atenção aos pormenores. O Moha e o Sahid são atenciosos e simpáticos. Aproveitei para tirar algumas dúvidas sobre o que nos faltava percorrer. O Moha diz que organiza com um amigo viagens pelo deserto em autonomia total durante 2-3 dias para percebermos como vivem (ou viviam) os berberes no deserto. Leva um 4x4 com bivouacs, cabras, farinha, verduras, água e tudo o que precisamos. Fiquei com o contacto para pensar nisso na próxima vez. Só não sei se aguento 3 dias de mota nas dunas!

Continua…